Fale com o Especialista: Como a escolha do reagente pode afetar os resultados?
No ambiente laboratorial, onde a precisão e a confiabilidade dos dados são fundamentais, cada detalhe conta. Entre eles, um dos mais críticos — e frequentemente subestimado — é a escolha do reagente químico. Pode parecer apenas um insumo entre tantos outros, mas a verdade é que a qualidade, o grau de pureza, a origem e até o modo de armazenamento dos reagentes têm impacto direto sobre os resultados analíticos.
Neste artigo da série Fale com o Especialista, vamos mostrar como a seleção adequada de reagentes é determinante para garantir resultados válidos, seguros e reprodutíveis, explorando os critérios técnicos, as normativas envolvidas e as consequências de uma escolha inadequada.
O que são reagentes e por que sua escolha importa?
Reagentes são substâncias químicas utilizadas para promover reações controladas em análises laboratoriais. Podem ser usados para identificação, quantificação, extração, purificação ou detecção de compostos. Estão presentes em praticamente todas as áreas: análises clínicas, físico-químicas, microbiológicas, ambientais, forenses, alimentícias e farmacêuticas.
A escolha correta do reagente influencia diretamente na:
Exatidão dos resultados;
Sensibilidade e especificidade da reação;
Velocidade e confiabilidade do teste;
Conformidade com normas técnicas e regulatórias.
Os principais fatores que afetam os resultados
1. Grau de pureza
Reagentes são classificados de acordo com seu grau de pureza, o que determina a presença (ou ausência) de impurezas que podem interferir nos resultados.
Os principais graus de pureza incluem:
Grau de Pureza | Indicação | Exemplo |
---|---|---|
P.A. (Pro Análise) | Alta pureza, ideal para análises precisas | Titulações volumétricas |
ACS | Conforme padrões da American Chemical Society | Ensaios farmacêuticos |
Grau Técnico | Comum para ensino ou uso não analítico | Preparações gerais |
Grau HPLC | Ultra puro, ideal para cromatografia líquida | Análises de traços |
Grau Espectroscópico | Para espectrofotometria, livre de interferentes ópticos | Medidas de absorbância |
Impacto: Usar um reagente de grau técnico em lugar de um P.A. pode gerar resultados inconsistentes, inclusive comprometendo a linearidade de um método validado.
2. Compatibilidade com o método analítico
Cada método exige especificações técnicas precisas. Um erro comum é escolher reagentes sem consultar o protocolo validado.
Exemplo: em um ensaio espectrofotométrico para proteínas, o uso de ácido nítrico em vez de ácido sulfúrico pode alterar a absorvância e interferir na curva padrão, mesmo que ambos sejam “ácidos fortes”.
Dica do especialista: Sempre consulte SOPs (Procedimentos Operacionais Padrão) e métodos validados antes de adquirir um reagente.
3. Estabilidade e validade
Mesmo o melhor reagente perde sua eficiência com o tempo. Exposição à umidade, luz, calor e contato com o ar pode levar à degradação da substância ativa, formando subprodutos que interferem nos resultados.
Consequências do uso de reagente instável:
Falha em reações colorimétricas;
Baixa sensibilidade em titulações;
Contaminação cruzada;
Precipitação e turvação de soluções.
Recomendações:
Siga rigorosamente a validade impressa pelo fabricante;
Armazene conforme a FISPQ (Ficha de Segurança);
Faça controle de estoque e rodízio (sistema PEPS).
4. Origem e qualidade do fornecedor
Nem todos os reagentes com o mesmo nome têm a mesma qualidade. O histórico e o processo de fabricação do fornecedor influenciam na padronização e confiabilidade dos produtos.
Critérios para escolha de fornecedores:
Certificação ISO 9001 ou ISO 17025;
Lote com certificado de análise (COA);
Embalagem segura e rastreável;
Disponibilidade de suporte técnico.
Empresas que utilizam boas práticas de fabricação (BPF) tendem a garantir mais consistência nos lotes, o que reduz variabilidade entre ensaios.
5. Conformidade com regulamentações
Laboratórios regulados por normas como RDC nº 512/2021 (ANVISA), ISO 17025 ou GLP (Boas Práticas de Laboratório) devem garantir que seus reagentes estejam de acordo com padrões reconhecidos.
O não cumprimento dessas exigências pode invalidar laudos, atrasar auditorias ou até comprometer registros regulatórios em produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentos.
Requisito obrigatório: todos os reagentes utilizados devem possuir documentação que comprove lote, fornecedor, grau de pureza e rastreabilidade.
Exemplos práticos: quando o reagente muda o jogo
Análises clínicas: o uso de solução de hipoclorito com concentração incorreta pode mascarar a presença de bactérias em exames de urina;
Controle de qualidade em alimentos: um reagente oxidado compromete a análise de peróxidos em óleos;
Ensaios farmacêuticos: um ácido P.A. vencido pode alterar completamente o pH da solução e impactar a solubilidade de um princípio ativo;
Ensaios microbiológicos: meios de cultura preparados com água deionizada contaminada resultam em crescimento indesejado de colônias.
Consequências da escolha inadequada de reagentes
A seleção errada ou o uso indevido de reagentes pode acarretar:
Resultados falso-positivos ou falso-negativos;
Retrabalho e aumento de custos operacionais;
Descarte indevido de amostras;
Danos ao equipamento (ex: entupimento de colunas HPLC);
Sanções por órgãos reguladores;
Perda de credibilidade junto a clientes e parceiros.
Em uma pesquisa da Labnet Brasil, 67% dos laboratórios que relataram retrabalho em análises indicaram problemas com insumos e reagentes como causa primária.
Como escolher o reagente ideal? — Checklist rápido
✅ Consulte o método analítico e o SOP antes da compra;
✅ Verifique o grau de pureza adequado;
✅ Confirme a validade e condições de armazenamento;
✅ Exija o certificado de análise do lote;
✅ Avalie se o fornecedor tem boas práticas e certificações;
✅ Registre lote, data de abertura e responsável técnico;
✅ Evite substituições sem validação prévia.
Conclusão: reagente certo, resultado confiável
A escolha do reagente vai muito além da prateleira do almoxarifado: ela é parte central do compromisso com a ciência, com a segurança e com a rastreabilidade dos resultados. Garantir a qualidade dos reagentes utilizados em laboratório é uma forma direta de proteger o investimento em equipamentos, o tempo da equipe e, principalmente, a credibilidade do laboratório.
Com critérios técnicos bem definidos e uma política de aquisição consciente, os laboratórios se tornam mais robustos, eficientes e prontos para auditorias.
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